terça-feira, 17 de maio de 2011

Cenas da Pensão - Parte 1

Em Campinas eu moro numa pensão que foi batizada, carinhosamente, pelos antigos moradores de Pensão dos Ratões. Um dia o Rafael chegou a me explicar o porquê do nome, mas confesso que não lembro mais.
Na Pensão moram cerca de 17 pessoas, algumas de outras nacionalidades. Atualmente temos um Cubano e um Inglês. Porém, quando cheguei no lugar, há mais de uma ano, tinha uma chinesa de hábitos "suspeitos" habitando a pensão. Quando digo hábitos suspeitos me refiro aos hábitos de higiene. Não entrarei em detalhes técnicos, mas posso dizer que o banheiro ficava num estado de petição de miséria quando ela acabava de usá-lo. Além disto, ela tinha um pote plástico onde levava sua marmita do dia para a faculdade. O detalhe é que ela NUNCA lavava o pote por fora, só por dentro. Imaginem o estado do utensílio...
Morar com pessoas tão diferentes, de hábitos, costumes e locais diferentes não é tarefa das mais fáceis, mas confesso que a gente aprende muito e também se diverte.
A Pensão é de um japonês chamado Ruy (nós o chamamos de SEU Ruy). Ele tem mais de 70 anos e transpira saúde. O pessoal da pensão costuma dizer que ele tem mais disposição e preparo físico do que qualquer um de nós que mora aqui. E eu acho que isto realmente é verdade. Seu Ruy é muito conservado e se preocupa muito com a saúde. Posso dizer também que ele é o rei da gambiarra. Qualquer coisa que quebre na Pensão, ele é quem conserta. Chamar uma pessoa da área, nem pensar, pois isto geraria gastos extras, coisa que seu Ruy não quer de jeito nenhum.
Só para vocês terem uma ideia, faz algum tempo ele estava trocando um vaso sanitário do banheiro: tirou um e trocou por outro. Por conta deste trabalhinho, seu Ruy deixou no nosso quintal três vasos sanitários. Eles estão ali há quase dois meses, pegando chuva, sol e servindo de decoração.
Dia desses eu tava observando as patentes e lembrei-me de Duchamp, artista dadaísta e surrealista responsável pelo conceito de ready made, e sua famosa obra "A Fonte", que é exemplo deste conceito. A obra é um urinol comum, branco, comprado numa loja de construção e foi enviado pelo artista para participar de um concurso de artes nos EUA. A obra foi rejeitada pelo júri por não conter "labor artístico".

Marcel Duchamp

A Fonte

Opiniões à parte, observando os 3 vasos sanitários no jardim da pensão lembrei-me do artista e sua obra e resolvi fazer uma pequena homenagem através de uma releitura. Estes aqui são os nossos vasos sanitários decorativos antes da minha intervenção:

Agora, com a minha intervenção:

Só uma pequena observação: Duchamp usou o pseudônimo de R. Mutt ao enviar a obra para o concurso de artes.

Brincadeiras à parte, o Seu Ruy deveria se tocar que estes vasos sanitários no jardim são perfeitos para o mosquito da dengue se proliferar. De vez em quando eu ou o Rafa tiramos a água que se acumula ali, mas a minha aposta é que os vasos continuarão no jardim por muito tempo.

Um comentário:

Maria Gurgacz disse...

hahahaa Carol, sua pensão tem cada coisa, eu fico curiosaaaaa pra conhecer HAHAHAHAHA
Qto ao Seu Ruy, ele além de fofo (pq todo japa é fofo) é um ARTISTA então é? rs... ADOREI A OBRA DOS VASOS, não conhecia esse artista do urinol, mas cá entre nós... tem mto artista melhor né? rs.... brinderinhaaaaaa
Tá mto legal seu texto!
Bjs