segunda-feira, 12 de julho de 2010

Va Pensiero

Os fragorosos aplausos com que o público do Teatro Alla Scala de Milão consagrou, a 9 de março de 1842, o Coro dos Escravos Hebreus durante a estreia da ópera Nabucco asseguraram a seu autor, Giuseppe Verdi (1813-1901), um lugar definitivo no panteão dos grandes compositores italianos. Com muitas liberdades históricas, o argumento de Nabucco fala dos judeus arrastados em cativeiro para a Babilônia sob o jugo de Nabucodonosor. Quando o coro lançou os primeiros acordes daquela melodia tão simples quanto sublime, cantando as palavras Va pensiero sull’ali dorate (Vai pensamento, sobre asas douradas), uma espécie de fagulha espiritual percorreu a plateia.

A Itália atravessava um momento histórico crucial. Não existia ainda como nação, era fragmentada em vários estados. A Lombardia, região da qual Milão era a capital, encontrava-se sob a férrea dominação do Império Austríaco. O anseio popular pela libertação, que logo mais se refletiria nas árduas batalhas do "risorgimento", o movimento pela unificação italiana, era forte e genuíno. O público que lotava a sala do velho teatro naquela noite mágica identificou imediatamente os sofrimentos dos judeus, cuja pátria fora invadida e dominada pelos babilônios, com a humilhação que os milaneses eram obrigados a padecer sob os austríacos. A partir desta metáfora, Va Pensiero tornou-se o símbolo musical do risorgimento e é, ainda hoje, o hino da liberdade de todos os povos.




Va Pensiero

Va', pensiero, sull'ali dorate.
Va', ti posa sui clivi, sui coll,
ove olezzano tepide e molli
l'aure dolci del suolo natal!
Del Giordano le rive saluta,
di Sionne le torri atterrate.
O mia Patria, sì bella e perduta!
O membranza sì cara e fatal!
Arpa d'or dei fatidici vati,
perché muta dal salice pendi?
Le memorie del petto riaccendi,
ci favella del tempo che fu!
O simile di Solima ai fati,
traggi un suono di crudo lamento;
o t'ispiri il Signore un concento
che ne infonda al patire virtù
che ne infonda al patire virtù
al patire virtù!


Vá pensamento

Vá, pensamento, sobre as asas douradas
Vá, e pousa sobre as encostas e as colinas
Onde os ares são tépidos e macios
Com a doce fragrância do solo natal!
Saúda as margens do jordão
E as torres abatidas do sião.
Oh, minha pátria tão bela e perdida!
Oh lembrança tão cara e fatal!
Harpa dourada de desígnios fatídicos,
Porque você chora a ausência da terra querida?
Reacende a memória no nosso peito,
Fale-nos do tempo que passou!
Lembra-nos o destino de jerusalém.
Traga-nos um ar de lamentação triste,
Ou o que o senhor te inspire harmonias
Que nos infundam a força para suportar o sofrimento.

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